sábado, 4 de outubro de 2008

Domingo XXVII do Tempo Comum (Mt.21,33-43)

Reflexão do Padre Gregorius Olapito Wuwur, SVD (Indonesiano)
Missionários do Verbo Divino, Provincia de Brasil

A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular.
Neste Evangelho, a parábola dos vinhateiros homicidas, Jesus nos anuncia uma verdade que ao mesmo tempo nos alegra e nos inquieta: Hoje, os vinhateiros somos nós, especialmente os chefes da Santa Igreja e das Comunidades cristãs, sem excluir as autoridades políticas. Todo cristão ou cristã crismada faz parte da equipe de arrendatários da vinha do Senhor, que é o povo. O dono da vinha é Deus.

A parábola visa, num primeiro nível, os chefes do Povo de Deus do Antigo Testamento, isto é, as autoridades judaicas, que não receberam bem os profetas, enviados de Deus, nem o seu próprio Filho, Jesus Cristo. Então Deus tirou a vinha, isto é, o povo, das mãos das autoridades judaicas e o entregou aos líderes da Santa Igreja e da sociedade. Isso vale também a nível individual. Se um líder não cumpre bem o seu cargo, fazendo o que bem entende da Comunidade como se ele fosse dono dela, Deus virá, tirará a Comunidade das mãos dele ou dela e a entregará a outro líder.

Quantos líderes, enviados por Deus, já trabalharam na nossa Comunidade, e deram a vida por ela! Hoje somos nós. Isto é uma alegria, mas é também uma responsabilidade nossa. O povo não é nosso, é de Deus, e ele espera frutos de justiça, de amor e de vida plena para todos.

Não podemos querer tirar proveito pessoal em cima do Povo de Deus, pois, como o próprio nome diz, o povo é de Deus e não nosso. Que bom se nós, líderes atuais, um dia ouvirmos de Deus: “Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor”. A viagem do dono da vinha para o estrangeiro significa que Deus não interfere no nosso trabalho, mesmo que não sigamos o contrato de arrendamento. Naquele tempo, uma pessoa quem estava longe não tinha nenhuma condição de acompanhar um trabalho, e de saber como está indo. A responsabilidade é toda nossa, como vinhateiros do Senhor. Só no fim Deus nos vai cobrar. O ato de matar o filho lembra-nos, além da condenação de Jesus, os irmãos de José do Egito que quiseram matá-lo (Gn 37).

Jesus citou o Sl 118,22s: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos”, para nos lembrar que ele é a pedra angular, a pedra principal da construção, isto é, da salvação planejada por Deus Pai. Hoje esta padre angular está na Igreja, una, santa, católica e apostólica.

Certa vez, as ferramentas de uma carpintaria se reuniram e começaram a reclamar umas das outras. Disseram ao martelo: “Você é muito barulhento; fica dando batidas o dia inteiro!”

O martelo falou para o parafuso: “Você é insuportável; só fica enrolando, dando voltas o tempo todo!” O parafuso disse para a lixa: “Eu não agüento mais você; é muito áspera, e fica arranhando tudo!” A lixa falou: “O meu protesto é contra o metro; ele fica medindo a gente. Eu não gosto dele!” Neste momento entrou o carpinteiro e disse: “Parem com essa briga! Cada um de vocês tem sua importância, do jeito que é: o martelo é forte, o parafuso une com força, a lixa retira as asperezas e torna bonita a madeira, o metro é preciso e exato, o serrote corta em linha reta... Vocês são uma equipe. Trabalhando unidas, vocês produzem móveis bonitos e de qualidade.

Nós somos as ferramentas do Carpinteiro de Nazaré. Vamos viver unidos e trabalhar em equipe, pois a nossa missão, cuidar da vinha do Senhor, é grande e bonita. Quando destacamos os defeitos dos outros, a situação torna-se tensa e negativa. Ao contrário, quando se busca com sinceridade as qualidades dos outros e os seus pontos positivos, acontecem as melhores conquistas humanas. Cada um de nós cristãos tem o seu jeito próprio. A Igreja é como um grande jardim, onde cada Comunidade é uma flor diferente. É sendo unidos que construiremos o Reino de Deus.

Maria Santíssima foi também uma operária da vinha do Senhor; e ela trabalhou tão bem, que foi premiada, sendo elevada ao Céu em corpo e alma. Que ela nos ajude a sermos bons vinhateiros. Que trabalhemos com dedicação e desapego, sem querer nos apropriar da vinha, que é de Deus. A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular.

1 - Deus vem à vinha para abrir nossos olhos

Alguns anos atrás surgiu (na Bélgica) um método de análise sociológica, que foi adotado pela teologia da América Latina, e se tornou conhecido como “método ver – julgar – agir”. Na prática, o método consiste em ver a realidade ou tomar contato com a realidade: analisar os prós e os contras que acontecem na realidade da comunidade. O julgar faz a análise da realidade à luz da Palavra de Deus, ou seja, o que a Palavra de Deus diz a respeito de tal realidade e, o agir é a parte prática: quando a comunidade se une e toma uma atitude em vista de mudar a realidade. Enquanto refletia e preparava nossa celebração cheguei à conclusão de que esse método está presente na Liturgia da Palavra dessa celebração. Na 1ª leitura e no Evangelho, por exemplo, o profeta pede aos seus amigos que olhem para vinha que ele plantou; é o ver. Depois, Jesus analisa a situação da vinha, é o julgar, e a 2ª leitura pede uma atitude, algo que possa transformar a situação da vinha par melhor: o agir.

2 - Frutos selvagens: sem sabor e azedos (ato penitencial)

Nas duas celebrações anteriores a essa (25º e 26º Domingos), refletimos a atitude do Senhor da vinha, convidando-nos a trabalhar na sua vinha, solicitando nossa colaboração para mudar a situação da vinha. Hoje, ele volta e pede que olhemos para a vinha, chamando atenção para ver a produção de uvas selvagens, uvas que sem gosto, amargas e sem aparência agradável. Numa palavra, frutos imprestáveis. Nosso ato penitencial falava de alguns desses frutos, como o individualismo e indiferença. Dois frutos que destroem a dinâmica da comunidade; frutos selvagens são aqueles frutos que nos fazem perder a referência fraterna na comunidade. Quando perdemos o respeito pelos outros, a comunidade produz frutos selvagens, amargos, azedos e sem aparência agradável. É muito amargo, é um azedume viver numa comunidade sem laços fraternos. Hoje, as leituras convidam cada um de nós para olhar para a vinha e analisar quais frutos estamos produzindo: frutos bons ou frutos amargos. Isso poderá ser feito também dentro de sua família: que frutos têm ali: selvagens, que torna o sabor da família amargo e azedo ou, frutos bons, nos quais viver em família é muito gostoso é saboroso?

3 - Animais pastando = perda dos sentimentos humanos

Outro simbolismo que aparece ao olhar para vinha está presente no salmo responsorial: os animais pastando na vinha, os animais entrando na vinha e destruindo tudo que vêem pela frente. É a imagem da agressividade, a violência bestial que entra na comunidade e pisoteia o que encontra pela frente. Também sobre isso fizemos referência, no ato penitencial, pedindo perdão pelas agressividades e violências que invadem e ameaçam a comunidade. Todas aquelas agressividades e violências que pisam nossas vidas e que tiram de nós, como pessoas e como comunidade, a dignidade humana e nos fazem viver no medo. Existem muitas formas de agressividades em nossos dias que, infelizmente, também estão presentes, aqui na comunidade {citar aqueles violências que mais aparecem na comunidade}. Vemos violências dentro de nossas casas, violências em nossas escolas, violências em nossas ruas. Violências que nos agridem e que nos prendem no medo de reagir em busca de um tempo novo, marcado pelo sabor de viver sem medo e sem ser agredido. A violência devasta a vinha e cria em nós o medo de realizar obras de bondade e o cultivo justiça.

4 - Desafio missionário: enviados a cultivar a vinha

Dentro do contexto daquele método que fiz referência no início da celebração – ver, julgar e agir – o profeta pede uma avaliação: o que eu não fiz pela minha vinha? Jesus pede um julgamento aos fariseus: o que vos parece? Hoje, as leituras pedem a nossa avaliação: o que podemos fazer com a vinha que cultivamos em nossa comunidade? Outubro é considerado o mês missionário. Missão tem a ver com envio: somos enviados a cultivar a vinha do Senhor. Nos Domingos anteriores a este, quando o Evangelho também proclamava a vinha do Senhor, refletimos que o jeito mais apropriado de viver a religião cristã é cultivando a vinha do Senhor. Nossa atividade (o agir) consiste justamente em cultivar os valores do Evangelho entre nós. Não existe jeito melhor de crer e participar da comunidade do que semear a justiça divina, cultivar a bondade entre nós, cultivar a fraternidade, cultivar a alegria e paz que afasta qualquer tipo de agressividade e violência... Isso é ser cristão, é ser discípulo de Jesus; é tornar-se missionário. Amém!


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